Muito se tem discutido sobre a acção concreta da animar e sobre as diferentes opções e figurinos que a mesma deve ou pode assumir. Importa discutir e reflectir, mas é urgente optar.
A história da animar confunde-se com a enorme dedicação e impressionante disponibilidade que diferentes organizações e pessoas assumiram nos diferentes estágios da construção deste projecto incontornável do movimento do Desenvolvimento Local em Portugal. A animar começou a respirar, deu os primeiros passos, cresceu e assumiu o seu lugar graças a estes diversos contributos, insuperáveis, de voluntarismo, de abnegação, de sacrifício pessoal e organizacional de todos os que em diferentes momentos disseram “presente”, acumulando responsabilidades e horas de trabalho. A animar que temos hoje deve-se a todos os que, assim, se envolveram na sua construção. E é muito o que temos hoje. Desde os tempos em que na casa de uns e de outros, com recursos sempre escassos, se fazia a animar, até aos dias de hoje, com uma equipa técnica alargada, uma acção contínua junto dos associados e dos parceiros, muito mudou. A animar tem hoje um espaço próprio e é reconhecida enquanto voz representativa de um dos movimentos sociais que mais contribuiu para o desenvolvimento do país durante as últimas duas ou três décadas.
Este facto não invalida que se coloquem dúvidas sobre o alcance da sua acção, dúvidas assentes, quase sempre, na percepção que todos temos que os desafios que se nos colocam evoluem e exigem novas abordagens. Face a uma realidade global – económica, social e cultural – em profunda mutação, que interpela a sociedade civil organizada e os restantes poderes a uma nova e diferente co-responsabilidade, este movimento é desafiado a novos posicionamentos. Julgamos que é neste ponto que se coloca a principal questão: Como pode o movimento do Desenvolvimento Local responder mais eficazmente a este desafio?
Acreditamos que a melhor resposta possível é uma animar forte, com capacidade para assumir e impor a sua agenda junto dos diferentes poderes (da opinião pública, dos decisores políticos e do poder económico e empresarial). Este é sobretudo um trabalho de COMUNICAÇÃO:
- Comunicação interna, que sustente e alimente esta “agenda”, que a renove, que a actualize, para que esta seja o reflexo dos problemas e das dificuldades vividas e das propostas e reivindicações dos territórios;
- Comunicação externa, junto dos media, do Governo, dos partidos políticos, dos diferentes interlocutores do Desenvolvimento Local.
Assumir este trabalho com eficácia, nos tempos que correm, implica uma acção contínua, de alimentação permanente destes canais de informação que, não cremos, possa ser desenvolvida, sem uma adequada profissionalização, devidamente articulada com quem tem a legitimidade para dirigir a Animar e com a participação organizada de todas as entidades associadas e associados/as singulares. Sustentar esta missão apenas na vontade e numa disponibilidade intermitente, gerida à distância e à custa de tempos pessoais e associativos locais é perder muito dessa eficácia e acabar por cair em esforços individualizados, não fazendo bem o trabalho em equipa que todos preconizamos. Profissionalizar este domínio fundamental da acção da animar é, julgamos, condição fundamental para potenciar o esforço e a dedicação voluntária dos órgãos sociais e para dar ao trabalho em equipa em todas as áreas da nossa actividade recursos permanentes e qualificados de que ele carece para se desenvolver e, assim, vislumbrarmos novos e mais profundos horizontes na acção da animar.
Todos reconhecerão que a equipa técnica que a animar tem consolidado ao longo dos últimos anos tem sido instrumento e recurso decisivo para prosseguir a sua missão. O que está a fazer falta é dar o passo seguinte e conferir a esta equipa atribuições e competências de comunicação e de negociação ao serviço dos interesses do Desenvolvimento Local. A criação do cargo de Director/a Executivo/a é a concretização deste passo, um passo que reforça e completa a acção voluntária da equipa de Direcção e facilita a participação mais activa dos associados.
Sem reduzir a isto o que é importante na acção e na organização da animar, a experiência mostra-nos que, em termos de definição de prioridades e de condições de eficácia na acção, está aqui uma área e um recurso onde é necessário e urgente fazer mais e melhor para, com isso, cumprirmos também melhor as missões da animar:
- representar mais eficazmente as suas associadas, especialmente junto das instâncias com responsabilidades de política pública na área do Desenvolvimento Local;
- promover formas de organização do conhecimento e divulgar mais e melhor as actividades das associadas, bem como de quem mais anda no Desenvolvimento Local e que deva merecer a nossa atenção;
- facilitar a partilha de informações entre os associados e com outros interlocutores relevantes, ajudando, assim, a desenvolver projectos comuns.
Esse é o nosso caminho, porque este é o caminho que a animar pode e deve fazer por todos nós e com todos nós.